sábado, 4 de junho de 2011

TRADUÇÃO: a questão do texto original.

"Todo texto é único e é, ao mesmo tempo, a tradução de outro texto...todos os textos são originais porque toda tradução é diferente. Toda tradução é, até certo ponto, uma criação e, como tal, constitui um texto único."
(Octavio Paz)

O significado/carga e o tradutor/transportador

Segundo J.C. Catford o processo de tradução pode ser pensado comoa sbstituição do material textual de uma língua pelo material textual equivalente em outra língua, de forma que o receptor desta língua possa utilizá-la de forma eficiente. Eugene Nida corrobora com as ideias de Catford e compara a tradução a vagões de carga enfileirados, onde temos alguns vagões (palavras) carregados de significados, uns mais outros menos, comandado por um trasnportador (tradutor). Segundo Nida, no desenvolvimento deste processo o que interessa não é quais vagões transportam quais cargas ou muito menos a sequência disposta dos mesmos, o que importa verdadeiramente é que todos os volumes alcancem o seu destino, de tal forma que atinja a língua-alvo e possa ser utilizada de forma eficiente por seus receptores.
A tradução da forma que é concebida por esta visão, pressupõe que a língua é transparente e que o tradutor anula-se diante dela e torna-se apenas um reprodutor da ideia do autor original. Sendo assim o tradutor apenas transportaria a carga (objeto-língua-estável) de um vagão para outro sem agir (interpretar) sobre ela (tradução).

  • Visão Tradicional da Tradução (Alexander Fraser Tytler);
  1. A tradução deve reproduzir em sua totalidade a ideia do texto original;
  2. O estilo da tradução deve ser o mesmo do original;
  3. A tradução deve ter toda a fluência e a naturalidade do texto original;
"Essa concepção não pode ser empregada em sua totalidade, pois os significados da língua não são objetos imutáveis, palpáveis, pelo contrário, eles se transformam constantemente no tempo e no espaço, de pessoa para pessoa e por mais aproximado esteja a tradução do sentido original do texto, ainda assim não temos a totalidade original deste texto, pois ambos (texto original e tradução) são únicos no tempo e no espaçõ". (Grifo meu)

Pierre Menard acreditava que o texto era um objeto de contornos determináveis e portanto perfeitamente capaz de aplicar as teorias de Tytler, ou seja, a reprodução total em outra língua do estilo, ideias e naturalidade do texto original. Estes autores sonhavam com a possibilidade da criação de uma linguagem universal, não arbitrária, que não dependesse de interpretações, cada palavra teria um sentido fixo e único independente do contexto. Menard através da obra de Cervantes (Dom Quixote) tenta buscar a totalidade, interpretação total, controle total sobre o texto fazendo a tradução da obra, resultando num esforço inútil reflete uma concepção semelhando as ideias de Catford e Nida.
Arrojo critica o posicionamento de Menard e diz: "a tradução não pode ser apenas o ato de transportar ou transferir significados de uma língua para outras, porque o significado de uma palavra em um texto dependerá do contexto em que ocorre" e continua dizendo "é impossível se chegar a uma lingua não-arbitrária, que possa controlar os conteúdos e os limites de um texto". 
 O objetivo de Menard era não apenas reproduzir o "Dom Quixote" em outra língua, mas repetir na íntegra toda a totalidade da obra de Cervantes: interpretação, controle total sobre a obra e identificação com o autor, o que não foi possível , pois Cervantes e Menard são duas pessoas distintas inseridas em um tempo-espaço diferente dentro de contextos individuais e únicos que direta ou indiretamente influencia na tradução da obra.

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